terça-feira, 29 de novembro de 2016

Novo Nascimento

Me parto em cenas: o parto de um novo ser e o morrer de outrem.
Crescer é uma antropofagia de si. Engulo partes de mim. Antigos eus que se misturam para dar vida a um novo. Como uma casca que já não me serve mais, me dispo de quem fui. Levo apenas algumas memórias, boas e más histórias, derrotas e glórias que tecem um novo alguém. A dor e o sofrimento são as agulhas mais afiadas nesse tear, preparando o necessário para um desabrochar. Dolorido processo. O morrer de outrem é o nascer de outro eu.
Só a essência permanece, nada mais resta.

Autorretrato/Self portrait 

Bilhetinho do coração



Tento ser erudita e meus poemas sofisticar
Mas quando penso em você
Fico sem jeito
Encho-me de clichês
Balbucio versinhos
Que parecem ter vindo de um caderno velho
Enfeitadinho de coraçõezinhos
Mente adolescente
Corpo de mulher.

Lorena Barreto
Como louco é pensar
Que o amor pode viver
Crescer
Mesmo após a morte
De um relacionamento
Talvez,
O fim não o foi no peito
De um amante
Ou de outro
Ou dos dois
Ele bem vive
Ressurreto
Alimentado pelas memórias
Que insistem em persistir
Numa música qualquer
Nuns versinhos de bar
Na boca delirante de alguém que não se esquece
De um amor avassalador
Como bem disse Leminski:
"Amor, então, também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei é que se transforma numa matéria-prima
Que a vida se encarrega de transformar em raiva.
Ou em rima."
Acho que rimou
E ainda rima
Como?
Não sei te explicar
Faz parte desses mistérios da vida
Que não se explicam e só se complicam
Se para eles procurarmos razão
Porque a mistura razão e coração
Nem sempre resulta em boa combinação.
Lorena Barreto
Carrego um segredo de estado.
Sou proibida de o contar.
Mas, meu leitor curioso,
Para você eu vou falar,
Pois sei que à dona deste coração
Não vais isso revelar.
Olhe bem para os meus olhos
E perceba a verdade velada
Que há tempos embalo no peito.
Vê?
Escrito está.
Mas tudo o que queria
Era poder isso gritar
Com ênfase atmosférica
Numa declaração rasgada
Mostrando minhas entranhas
Tomadas e consumidas
Pelo amor de uma mulher.
Mas é segredo!
Lembra?
Sou agente secreto do Destino
E assim serei
Até que tenha piedade de mim.
Lorena Barreto
No entardecer diário
Escrevo nossa história
Um museu itinerante
De tapas e beijos
Louvores e desejos
Rancores e mágoas
No anoitecer cotidiano
Refaço nossos planos
Planejo uma viagem
Ao centro das paixões perdidas
Sem adeus, sem despedidas
Durante o amanhecer
Lembro-me de você
Anseio te reencontrar
Numa humilde localidade
Distante do murmúrio
Ensurdecedor desta cidade
Pelo dia
Sinto a agonia
O desespero a me tomar
Ao me dar conta
De que tudo o que faço
Diariamente
De nada valerá
Pois és a despedida de todas as minhas esperanças em vida.
Lorena Barreto

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Guerra declarada!

Me banho em lágrimas.
Componho mares.
Esse é o preço que eu pago
Por não me conformar com o que posto está.
Desatino a teimar e em não aceitar
Aquilo que se dita
Não sou Leminski
Para tacitamente assinar
Em tudo o que o destino pintar.

Histórias bruscamente interrompidas
Mas que marcaram o suficiente
Para me lembrar
Que o destino é o meu mais feroz inimigo
Que de vez em quando
me convida a uma trégua,
Mas desconfiada como sou
Não dou ouvidos a esse ator
É tão somente mais um golpe
Para me fazer ceder
E seu poder reconhecer
Mas enquanto eu viver
Teimarei mais tanto ainda
Amarei o que não me foi permitido
E guardarei no peito o que ele não consegue arrancar,
Pois até à morte, ó, Sina,
Insistirei em tecer
As próprias linhas do meu viver.

Lorena Barreto

domingo, 28 de agosto de 2016

Prometeu acorrentado

Versos proibidos
A vida me faz escrever
Se enamorou meu coração
De um inacessível ser

Mas não conformado
E de dura cerviz
Busquei conquistá-lo
Subi altas montanhas
Até avistar a musa
De olhos de fogo
Que me haviam consumido
De terna paixão
Num sonho que tivera
Tão real quanto a inveja dos deuses

Num jogo
Entrei eu para vencer
Mesmo sabendo desde o começo
Que iria padecer

Achou-me o Destino mais uma vez
e logo meu laço com ela desfez
Tal qual Prometeu acorrentado fora
Pela flor vermelha que dera aos homens
Sentenciado fui eu a viver sendo
Devorado lentamente pela dor
Que me faz pensar no que a gente poderia ser.

Lorena Barreto

Poesias mais degustadas:

Que dia é hoje...