segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Guerra declarada!

Me banho em lágrimas.
Componho mares.
Esse é o preço que eu pago
Por não me conformar com o que posto está.
Desatino a teimar e em não aceitar
Aquilo que se dita
Não sou Leminski
Para tacitamente assinar
Em tudo o que o destino pintar.

Histórias bruscamente interrompidas
Mas que marcaram o suficiente
Para me lembrar
Que o destino é o meu mais feroz inimigo
Que de vez em quando
me convida a uma trégua,
Mas desconfiada como sou
Não dou ouvidos a esse ator
É tão somente mais um golpe
Para me fazer ceder
E seu poder reconhecer
Mas enquanto eu viver
Teimarei mais tanto ainda
Amarei o que não me foi permitido
E guardarei no peito o que ele não consegue arrancar,
Pois até à morte, ó, Sina,
Insistirei em tecer
As próprias linhas do meu viver.

Lorena Barreto

domingo, 28 de agosto de 2016

Prometeu acorrentado

Versos proibidos
A vida me faz escrever
Se enamorou meu coração
De um inacessível ser

Mas não conformado
E de dura cerviz
Busquei conquistá-lo
Subi altas montanhas
Até avistar a musa
De olhos de fogo
Que me haviam consumido
De terna paixão
Num sonho que tivera
Tão real quanto a inveja dos deuses

Num jogo
Entrei eu para vencer
Mesmo sabendo desde o começo
Que iria padecer

Achou-me o Destino mais uma vez
e logo meu laço com ela desfez
Tal qual Prometeu acorrentado fora
Pela flor vermelha que dera aos homens
Sentenciado fui eu a viver sendo
Devorado lentamente pela dor
Que me faz pensar no que a gente poderia ser.

Lorena Barreto

Ao meio-dia

Traga o sol.
Traga o sol para mais perto.
Traga-o.

Solamente una coisa te pido:
Solidifique os laços com a luz.
Solte o trago que te insola.

Pasme diante do solar
Da beira à eira.
Sem plasma tv.

Seja o sol.
Sol a sol.
Sol na sola.

Traga o sol.
Traga o sol para o teto.
Traga-o.

Sole um solilóquio.
Ensaia a letra inteira
Na barra da tua saia.

Toda a plateia
Está a tua espera,
Grata ao sol.

Traga o solo
Que te pariu.
Solte a mente.

Tragando o vil
Astro das manhãs.
Rei serás da tua soul.

Ação insólita pensar
Que mesmo após os poentes,
O sol se torna poema.

"Sou o que sol"
É o cantar dos consolidados.
"Sol, o que eu sou?"
A pergunta dos desolados.

No cósmico viver,
Tragando o sol,
A ordem é uma só:

Seja um feto,
em teu ventre, o sol.
Afete o que te fere.

Fiat lux.

Lorena Barreto

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